Long Story Short, Como resolver quase tudo?
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Nós nascemos completamente indefesos e dependemos totalmente dos nossos pais ou cuidadores e a nossa maneira de estar é muito instintiva. Choramos para comer e sorrimos para mostrar que estamos bem. É um modo de estar muito automático e queremos sobretudo satisfazer as nossas necessidades fisiológicas.
Passando algum tempo, crescemos. É o que acontece quando a Terra gira em torno do Sol, os bebés crescem. E quando nós crescemos aprendemos. Aprendemos com os pais, observando o que eles fazem e o que dizem. E algumas coisas que aprendemos, era preferível não aprendermos, mas faz parte. Ás vezes nos contam disparates como: “O Pai Natal vai te trazer prendas se te comportares bem” e nós acreditamos de repente, sem questionarmos, que essa personagem existe. (Um dia vai haver desilusão.)
Acreditamos literalmente em todas as superstições, que as mentes criativas dos adultos sábios nos ensinam, para nos “proteger”. Nesta altura gostamos muito de histórias e mitos e lendas e espíritos e magia e fantasia. Desenhos animados com bonecos arredondados e de preferência 2D, porque o processamento da linguagem ainda é muito limitado. Ainda só paramos de gaguejar.
O nosso pensamento é um pouco tribal. Fazemos tudo para mantermos a família unida, porque estamos muito preocupados com a segurança e continuidade da nossa “tribo”. Algumas crianças choram para acalmarem os pais que estão aos berros, outras brincam alegremente para anima-los e algumas tornam-se esquizofrénicas quando estes se separam, fragmentam as suas personalidades para tentarem unir os membros da família e parece que estão “fora de si”, quando surgem vozes, por aí. Claro que isto tudo pode ser resolvido mais tarde, às vezes com mais esforço do que outras, dependendo da severidade. As crianças são muito amorosas.
Mais umas voltas em torno do Sol e nós fartamo-nos dessas tradições e superstições e achamos que somos fortes. De repente viramos rebeldes, queremos a nossa liberdade, queremos o nosso território. Os rapazes começam a desenhar órgãos genitais nas paredes, raparigas competem pela atenção e o nosso Ser, quer se expressar à grande, sem pensar duas vezes. Aqui a recompensa instantânea prevalece e pouco pensamos nas consequências. Isso fica para mais tarde. Então queremos entender o nosso lugar na sociedade e lutamos pelo poder, expressamos a nossa força e coragem e queremos alcançar glória pessoal. Somos guerreiros e sonhamos ser heróis.
E às vezes conseguimos, às vezes não. E quando isso não acontece nos tornamos bullys, às vezes contra nós mesmos. Nesta altura o mundo parece uma selva e sobrevive o mais forte, portanto a violência é uma virtude. O guerreiro em vez de alcançar objetivos e questionar as regras impostas pelo estado, revolta-se e vira Rebelde, às vezes é sádico, às vezes é masoquista. Tudo é considerado uma derrota ou conquista, em parte porque o cortex frontal, os tais “dois dedos de testa”, ainda não está completamente maduro. Só por volta da 24ª volta em torno do Sol que essa parte do cérebro fica “pronta”. Enquanto o cérebro está nesse processo, surgem os remorsos e nos tornamos realmente empáticos, sociais.
Mas porquê…? Começamos a sentir a culpa e queremos também compreender a sua origem. O nosso pensamento torna-se muito linear, causa e consequência, e queremos as coisas muito previsíveis. Então começamos a valorizar a ordem e a disciplina. Queremos seguir as regras à risca e seguirmos o “caminho certo”. Pode-se dizer que já interiorizamos as regras da sociedade. Isto para minimizar a culpa e as punições, tornamo-nos muito autocríticos e achamos que os erros são para serem evitados e quando cometidos castigados. Estão a ver as obsessões e compulsões a surgirem aí? A vida de repente é um teste.
Agora o guerreiro deixou o ring do UFC e vai para a tropa prestar serviço à nação. Tornamo-nos muito prestativos nesta altura, sacrificamo-nos agora, para ter recompensa no futuro, e se as tendências mais hipócritas nos ofuscarem a mente, temos a tendência para a depressão e às vezes até o suicídio é opção, quando é demasiada a opressão dos tiranos e a nossa impotência cresce. Uns dias bebemos uns copos, nos dias a seguir “levamos na cabeça”, a culpa aumenta e temos os problemas do alcoolismo. Começamos a criticar a incompetência dos governantes e estamos convictos de que conseguimos melhor, se ao menos tivéssemos o nosso reinado.
Revoltados com o sistema e inspirados pela potencial fama que podemos ganhar, viramos empreendedores, líderes, influencers, basicamente a mesma coisa. Agora queremos construir o nosso reinado e testamos opções de forma pragmática e científica, para sermos o mais eficazes possível. Seguimos os modelos de sucesso e os concelhos dos “experts”. Isto porque de repente nos deparamos com a nossa incompetência. A ansiedade torna-se excitante, até parece que estamos alegres e super motivados para alcançarmos sucesso e queremos ser vistos como tal, portanto preocupamo-nos muito com as aparências, usamos a máscara sorridente, e os amigos influentes para promovermos de forma segura, publicamente, as nossas conquistas e angariar mais “followers”.Às vezes ganhamos um pouco mais, e queremos deixar tudo e simplesmente descansar, o hedonismo bem merecido, que merecemos desfrutar, se ao menos tivessemos conseguido automatizar o negócio e ter independência financeira, isso é que era. E às vezes, depois de muita cafeina, conseguimos. A competição afinal até sabe bem, quando a vida se torna um jogo e percebemos como a máquina funciona.
Acontece que a corrida às vezes se torna esgotante e os bens materiais acumulados não preenchem o vazio e a solidão que sentimos. A inveja e o ressentimento começa a ser grande e percebemos que todas as emoções são válidas. O impacto que estamos a ter no planeta e nas comunidades entra na nossa consciência e surge a vontade de ir para o mato dançar e abraçar as árvores, à procura de conexão, e às vezes isso chega. Contudo alguns de nós sente que é necessário fazer alguma coisa, nem que seja uma manifestação, politicamente correta, para envergonhar a elite. Afinal somos todos iguais, basicamente animais, mas espirituais. O lado espiritual da vida adquire significância. Procuramos compreender as perspetivas uns dos outros e chegarmos a um consenso, só que existem tantas perspetivas quantas pessoas e variam dependendo do contexto. Sendo que alguns mapas representam o mesmo território com maior detalhe e rigor, mas ser demasiado racional e ignorar as emoções é um terror.
Por isso alguns de nós vão para as suas grutas, e estudam, agora por gosto e não por obrigação, a interligação. Reconhecemos a interdependência entre tudo e a mudança constante. Que a previsão é uma ilusão e que a própria medição produz o erro. Tudo é relativo. A complexidade é simples. As dualidades são para integrar. E é isso que fazemos, questionamos todos os valores, teorias, filosofias e deixamos crescer a barba (no caso daqueles que querem ser vistos como sábios intelectuais) e escrevemos a nossa versão do futuro da história, aludindo a uma solução.
E quando admitimos que não percebemos nada, e que tudo é só interpretação. Paramos; e a solução emerge sozinha, atos de amor perante os outros. Afinal todos gostamos do mesmo, basta praticar isso e deixar fluir, porque tudo flui naturalmente. O Tao torna-se claro. Nirvana imediato. Deus na Terra. E percebemos que as palavras nos limitam…vamos só celebrar a vida agora que ela acontece.
Com gratidão, Andrei